segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Mulheres e Poesia IV




Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra calda
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

 - e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Um comentário:

Anônimo disse...

O ser mulher enche e esvazia o cálice. É a arte maliciosa que carrega e cativa vida.
No mundo real de sombras e ilusões, se violentam e se perdem, vislumbrando um não ser. Querem conquistar, mas descuidam do manto de seda que as envolvem.
Ah! As mulheres que nos habitam: invasoras, armipotentes, desveladas, apaixonadas... Bradam e silenciam em busca do caminho que lhes levem ao encontro dos céus...