segunda-feira, 9 de abril de 2012

A origem do nome "Caririaçu"


          Uma de minhas grandes curiosidades era quanto à origem do nome de nossa cidade “Caririaçu”, que até bem pouco tempo, ainda era possível ver escrito com duas grafias: Caririaçu e Caririassu; mas que com o passar do tempo prevaleceu a primeira. De qualquer forma, sempre me perguntava como e quando surgiu a mudança e também o seu significado. Por muito tempo, isso era um verdadeiro mistério, até a leitura do livro do Sr. Raimundo de Oliveira Borges, Serra de São Pedro – História de Caririaçu (Esboço Histórico). Na citada obra o autor relata a origem de nosso nome e é possível descortinar um pouco do processo histórico que o originou através de uma carta do Sr. Aderson Borges de Carvalho, lançado luz sobre o episódio.
          Não sou saudosista, até porque quando aqui nasci, essa cidade já se chamava Caririaçu, cresci sob a sombra desse nome, que pra mim, é muito agradável. Então já aviso logo, este texto não tem a pretensão de uma volta ao passado, às origens da volta do nome, não se trata disso. Trata-se apenas de um esclarecimento histórico, justamente para entender tais origens. Passamos recentemente por tantas mudanças de nomes nas localidades da zona rural, só pra citar como exemplo, a mudança do sitio Chucalho, para Santa Cruz, Cobras para Santo Antonio e tantos outros que já nem me lembro com clareza, que nos deixam desnorteados na maioria das vezes.
          Mas toda mudança tem uma origem e um determinado fim. Tentava entender a origem e a finalidade dessa mudança de nome da nossa cidade. Creio ter começado a entender melhor. É pena que se ache tão poucas referências históricas sobre esses episódios. Mas também, não sou historiador, não é minha área, não sei nem como começar uma pesquisa desse porte, enfim sou apenas um curioso. Mas, fica aqui o registro que encontrei. Quem tiver mais informações e quiser colaborar seja bem-vindo. Segue abaixo as passagens em que o Sr. Raimundo de Oliveira Borges fala em seu livro sobre a mudança de nome, bem como também as explicações enviadas pelo Sr. Aderson Borges de Oliveira, por carta ao autor do livro. Reproduzo inicialmente o texto do Sr. Raimundo e em seguida o do Sr. Aderson. No livro a ordem é inversa.

"Capítulo IV
TOPONÍMIA INDÍGENA
          A mudança do nome do município de São Pedro do Cariri (Decreto-Lei N° 1.144, de 30-12-1943) não foi muito bem recebido pela população e continua sendo ainda hoje.
          Prefere o de São do Cariri, permanecendo na esperança da volta do antigo nome, como aconteceu com Santonópole, que não aceitou a inovação que lhe impuseram e voltou a ser como era antes do gosto do povo Santana do Cariri.
          O nome de São Pedro do Cariri foi dado pela Lei N° 1541 de 21-08-1918, in verbis:
 
‘Muda para São Pedro do Cariri o município e vila de São Pedro do Crato.
O povo do Estado do Ceará, por seus representantes, decretou e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo Único – Fica mudado para São Pedro do Cariri o nome do município e vila de São Pedro do Crato, revogadas as disposições em contrário.
Palácio da Presidência do Ceará, em 27 de agosto de 1918 – João Thomé de Saboya e Silva, J. Saboya de Albuquerque.’

          Veio a de 1943 e mudou para Caririaçu.
          RENATO BRAGA, na sua citada obra, página 297, aduz que Caririaçu é o ‘nome de uma tribo indígena que pervagava por essas paragens.’
          Não me parece procedente a afirmativa, porque não há notícia de haver perambulado por essas bandas nenhuma tribo com esse nome.
          A Serra, ao contrário, foi habitada pelos índios Cariris, consoante ficou substancialmente esclarecido no Capítulo 1° deste trabalho.
          Inclino-me ao que a respeito se encontra em ‘REGIÃO DO CARIRI’, obra já referida, de que Caririaçu vem ‘de cariri ou kiriri, calado, taciturno, e assu, sufixo aumentativo’ (página 59).
         Aliás, embora se escreva no final açú (sic) ou assu, indistintamente, a preferência vem sendo pelo primeiro, tanto que o próprio decreto que operou a mudança o perfilha.
         Da Serra de São Pedro, principalmente do lugar ‘Paraíso’ – bairro da sede – alcança-se toda a vasta região do Cariri, inclusive, para o sul, as cidades do Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, a fimbria azul do horizonte para as bandas de Milagres, Abaiara, Porteiras e Brejo Santo, e, para o norte as serranias que se dilatam rumo aos municípios de Granjeiro, Aurora e Lavras da Mangabeira.
        Provavelmente foi isto, foi essa visão distendida da Serra, abraçando a vasta região caririense que levou o legislador a dar ao município a denominação de Caririaçu Cariri Grande, dos indígenas.
Mas o que agrada, o de que o povo serrano gosta mesmo é São Pedro do Cariri, nome este que todo mundo nota com que prazer ele o pronuncia.
         Uma das grandes virtudes, ou características, do caririense, é o orgulho de pertencer e ser conhecido como filho desta região. Daí a inconformação daquelas localidades sitas aqui que, sem razão plausível, perdem a sua toponímia tradicional, ou que lembra as suas profundas raízes étnicas, mesmo que a nova polidamente as relembre, e, por isso, porfiam na sua recuperação, adotando a mudança só por obediência, mas não por adesão espontânea.
         Nenhuma composição musical popular expressa melhor, ou mais fielmente, esse sentimento de amor e de apego do caririense a esta gleba do que aquela em que o filho da terra premido pelos rigores da seca, resiste, não obstante, e ficando os pés, brada... ‘só deixo o meu Cariri no último Pau de Arara.’"

Borges, Raimundo de Oliveira - Serra de São Pedro - História de Caririaçu (Esboço Histórico) - Fortaleza: ABC Editora, 2009 (pág. 57 - 59)

         (...)
         Do seu trabalho muito teria que dizer sem a verdade de critica, que não sou do ramo, mas por motivações que ele me desperta na esfera sentimental, pois muitas de suas páginas alcançam-me no tempo, fazendo-me testemunha da história. Enalteço por isso a evidência de seu posicionamento diante dos fatos: imparcial no julgamento e prudente nas interpretações. Houve-se como se não fora um dos protagonistas da história em tempo recente, como político atuante e crítico ardoroso da sociedade em que viveu. A paixão não deve ter morada no coração de quem se propõe a zelar a história. E no seu livro, em momento algum, há vestígios de passionalidade, fato nem sempre constatado em alguns dos mais conhecidos historiadores e cronistas regionais.
         A prudência a que me referi é meriadiana quando discorda de RENATO BRAGA: ‘não me parece procedente a afirmação porque não há notícias de haver perambulado por estas bandas nenhuma tribo com esse nome,’(Caririaçu).
         Não admitindo, prudentemente, a existência dos Índios Cariris-Açu – acerta em cheio no que teria sido a intenção do legislador ao dar ao município o nome de CARIRIAÇU.
         Digo, teria sido a intenção do legislador, porque este, lá de fora, realmente teve a norteá-lo apenas as sugestões que lhe foram apresentadas pela Prefeitura e pela Agência municipal de estatística. Essas sugestões foram colhidas de pessoas esclarecidas que à época viviam no município, entre estas o missivista, e enviadas para o antigo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Sua ausência no município na época justifica não o ter sido consultado e contribuído decisivamente para a mudança do nome da sede e dos distritos que eram somente Junco e Todos os Santos.
         Solicitado por ‘seu Carrim’ então prefeito e por Carlinho Amaro, agente da estatística, ofereci sugestões para mudança do nome de São Pedro e Todos os Santos, para São Pedro sugeri: IGAÇABA (alusão às urnas encontradas nos alicerces da atual Igreja matriz, cerâmica indígena); PARAÍSO (referência ao aprazível sítio próximo ao núcleo urbano e hoje florescente subúrbio) e finalmente CARIRIAÇU, como a intenção que o Sr, atribui ao legislador, exatamente porque do alto da serra de São Pedro, no Paraíso, no Flor, no Bico da Arara, numa centena de diferentes pontos, sobrepostos ao Cariri, plano ou pouco acidentado, aqui de baixo, temos amplos e magníficos belvederes feitos caprichosamente pela natureza, dominando numa ampla visão, encantadora paisagem. Para Todos os Santos sugeri MIRAGEM, tendo em vista que embora a palavra significando ‘ilusão enganadora’ contraste com a vitalidade econômica do distrito – daquele ponto na época do verão julgamos os horizontes mais distante do que realmente o são, numa ilusão de ótica que poder-se-ia dizer se assemelha à miragem dos desertos. Quanto ao distrito de Junco, sugestão para Granjeiro foi do Anísio Farias, homenagem à tradicional família daquela gleba.
         Essas mudanças toponímicas dos municípios brasileiros e seus distritos visavam entre outras coisas evitar o extravio de correspondências que endereçadas a uma cidade iam ter a outras, fato que constateis quando substitui extra-oficialmente a agente postal Isabel de Freitas. Sobre o assunto creio que boa fonte de informação é a ‘Revista Brasileira de Geografia e Estatística’, edição da época.
         Sobra-lhe tato e sensibilidade para afirmar que não gostamos do nome CARIRIAÇU dado à nossa terra. Não fora por exigência da lei em pleno Estado Novo, certamente ainda teríamos hoje o adocicado nome de São Pedro do Cariri.(...)

Borges, Raimundo de Oliveira - Serra de São Pedro - História de Caririaçu (Esboço Histórico) - Fortaleza: ABC Editora, 2009 (pág. 25 - 27)

Um comentário:

Unknown disse...

Francisco Cavalcante parabéns pelo resgate de um passado que insistimos em ignorá-lo.
Também não mim considero um saudosista, mas nunca escondi de ninguém que desde remota época quando descobri que Caririaçu já foi chamado de São Pedro que tenho predileção por este último nome.