terça-feira, 8 de maio de 2012

Os olhos não têm cerca!


Questionamentos sobre a liberdade, oriundos do filósofo Manezim

Existem situações na vida em que nos deparamos com perguntas que, pelo menos aparentemente, já estavam respondidas. Uma delas é a questão da liberdade. Falar em liberdade é falar de muita coisa, e de muita coisa vaga. A primeira sensação ou impressão vaga vem da própria definição do vocábulo: afinal, o que é liberdade? Aprofundar tal questionamento, permite verificar o quão ambiguo é o termo. Senão vejamos: para Bauman "numa situação de liberdade podemos fazer o que numa situação diferente seria impossível. Podemos fazer o que quisermos, sem receio de sermos punidos, presos, torturados, perseguidos."(Bauman, 1989). Dessa definição já percebemos o seu oposto, a falta de liberdade e a necessidade de ligação do termo com o "ato" ou com a "atuação" em determinado contexto. Vários termos saltam imediatamente ao olhos: fazer, deixar de fazer, permitido e proibido e suas variações.
O mesmo autor, na mesma obra, alerta para o fato do termo estar intimamente conectado à noção de responsabilidade. Significa que nossos atos livres são de nossa inteira responsabilidade. Podemos buscar nossos objetivos, e nessa busca advém o direito de errar. Ser livre implica que ninguém possa impedir nossas ações quando as desejamos colocar em prática. No entanto, não existem garantias que o que almejamos dará o resultado que precisamos ou mesmo qualquer resultado.
Como estou escrevendo fortemente inflenciado pela obra de Bauman, o texto estará repleto de sua marca. O mesmo alerta que: "a ausência de proibição ou de sanções punitivas é, de fato, condição necessária mas não suficiente para atuarmos de acordo com os nossos desejos." (Bauman, 1989). Podemos querer mudar de lugar, cidade, estado país e, no entanto, não termos o dinheiro suficiente para o fazê-lo. Desse modo, a simples ausência de restrições, ou proibições, não define adequadamente o termo "liberdade".
São questionamentos por demais importantes nesse momento de ambiguidade em que vivemos. As pessoas se proclamam livres e cantam aos quatro ventos tão condição. Muitas vezes não nos damos conta do que está embutido em tais discursos, como o fato de algo depender, só e somente só, do desejo íntimo de cada um. Existem freios invisiveis, quase imperceptiveis à nossa volta, nos cercando, moldado nossa vida de forma sutil e às vezes de forma arrebatadora.
Mas quero voltar à frase do filósofo Manezim: os olhos não tem cerca! É possível moldar o pensamento do homem em uma sociedade, de tal forma que ele pensando ser livre, estará de fato preso por este pensamento? Ou no dizer do filósofo é impossível cerca os olhos (já que eles são as portas da alma e consequentemente do pensamento)?
É possível impor, através de sanções ou proibições, mais ou menos nítidas, a conduta, o jeito de ser e de viver de uma pessoa, ou estando essa na ausência de tais proibições agirá de acordo com sua vontade, independentemente dos resultados de tal comportamento? Fica o questionamento para os seres que se consideram livres (!?).

Fonte: Bauman, Zigmunt - A liberdade - Editorial Estampa, Ltda, Lisboa, 1989 e Manezim.
Foto: Dedé Cavalcante
Modelo: Gutiara Bezerra
(agradecimentos especiais pela paciência de posar para este pequeno ensaio)

Um comentário:

Ana Paula Cavalcanti disse...

Me surpreendi com a profundidade da frase do mais recente filósofo Manezim!Me fez lembrar o enrendo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que em 1989,trazia o enrendo "Liberdade,liberdade!Abra as asas sobre nós..."Inspirado e com alguns trechos do hino da Proclamação da República!Esse enrendo se deu em comemoração ao centenário da proclamação!
E eu na época ainda uma criança, logo gostei do samba, a melodia é bacana! Mas só muito tempo depois vim a prestar realmente atenção ao q a letra dizia!E sabe o q eu descobri?Que uma música que fala de liberdade, coloca a princesa Isabel como heroína!Claro vivemos num pais de heróis!Que precisam lutar por nossa "liberdade", já que nós mesmos n o fazemos...
E viva nosso filósofo Manezim!E que venha a próxima reflexão.